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Educação Sentimental

Por Betty Milan Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Nós hoje tendemos a focalizar só os fatos. Com isso, perdemos de vista a vida que, sendo o nosso maior bem, é efêmera. Como a vida tanto depende da atualidade quanto dos sentimentos, vou andar na contramão e falar sobretudo deles
Entrevista com a historiadora da psicanálise e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco, autora da recente biografia de Sigmund Freud: “Sigmund Freud – em Seu Tempo e no Nosso”.
Para os antigos, a pior das mortes era a repentina e a boa morte era a assistida. Nós, hoje, queremos sobretudo que ela seja hospitalar. Como se a morte pudesse contaminar o espaço dos vivos. Como se, por nos distanciarmos dos que vão morrer, nós nos tornássemos menos mortais. nadinha A réplica da escultura Emigrantes, […]
Tradicionalmente se diz que as paixões humanas são três: a do amor, a do ódio e a da ignorância. O amor pode se tornar ódio. Daí a existência do conceito de hainamoration, introduzido por Lacan na Psicanálise. Trata-se de um conceito dificilmente traduzível, que engloba o ódio (haine) e o amor (amour), partindo da palavra […]
O email serve para comunicar. A gente lê, arquiva ou joga fora. A carta é feita para ser lida e relida. Sobretudo a carta de amor, que tanto permite arrebatar o destinatário quanto dar a segurança de que ele precisa. O email, a gente traga. A carta, a gente degusta. Cada uma das palavras do […]
Foi a escritora Françoise Sagan, aquela de Bom dia, Tristeza e Um certo sorriso, quem me chamou a atenção para a relação entre a liberdade e o desejo do possível. Disse ela, inclusive, que havia aprendido isso com Sartre. A vida me ensinou a abrir mão do impossível, e eu, hoje, só conto as flores […]
Descobri a irmandade entre o amigo e o poeta ao escrever O Clarão. Os dois são filhos de uma mesma mãe: Delicadeza. Tanto um quanto outro se exercitam de formas diferentes na contenção. Basicamente, o amigo quer contentar o amigo, ele sabe escutar e dizer o que o outro precisa ouvir. O poeta leva em […]
O sol, que tudo vê, nada vê que possa se igualar à mulher amada, diz Shakespeare em Romeu e Julieta no século XVI. Quem ama o feio, bonito lhe parece, diz o ditado popular, que o ator, compositor e multi-instrumentista brasileiro Seu Jorge usou na canção Mina feia – tão simples quanto sabiamente. O amor […]
  A frase acima decorre de um adágio popular que diz: “O futuro a Deus pertence”. Com outras palavras, uma personagem da peça de teatro Dora não pode morrer  diz a mesma coisa: “–Não sou adivinha. Ainda bem. Já imaginou se nós soubéssemos o futuro? Teríamos que renunciar à esperança”. Quem diz isso é uma […]
Com a morte do amado, o amante perde a possibilidade de viver o que só podia ser vivido graças ao encontro dos dois. Perde a certeza de que o amado estará sempre para ele, de que saberá escutá-lo e dizer a palavra certa quando isso se impõe. A esperança do reencontro acaba e começa o […]
Da famosa frase de Descartes, Penso, logo existo, Jacques Lacan, por ser psicanalista e trabalhar com a palavra para decifrar o inconsciente, fez: Digo, logo existo. Deu prioridade ao discurso, e não ao pensamento. Da mesma frase de Descartes, meu amigo Carlito Maia, por ser um filósofo popular brasileiro, fez: Penso nos outros, logo existo. […]
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Ninguém está a salvo de um lapso, ou seja, de dizer exatamente o contrário do que pretendia. Há lapsos que foram causa de derrota política ou ridicularização. Pelo simples fato de poder surpreender, a palavra gera resistência. Quem quer ser surpreendido por um ato falho? nadinha Dizem que a literatura está ameaçada de desaparição. Não […]
Talvez porque seu trabalho estivesse fundado na escuta, Freud foi particularmente humano. Quando ele escreveu Três ensaios sobre a sexualidade, em 1895, o termo perversão designava todas as formas de desvio sexual, ou seja, toda prática que não estivesse ligada à reprodução propriamente dita. Freud mostrou que as práticas ditas perversas servem de preliminares para […]
Freud ensina que é inútil se opor à fantasia com um argumento baseado na realidade. Inútil porque o desejo é onipotente. Se Sancho Pança dissesse ao Quixote que os moinhos de vento contra os quais ele se lançava não passavam de moinhos de vento, o Quixote não o escutaria, porque desejava que fossem seus inimigos. […]
Tenho certeza de que escrevi isso em Carta ao filho, mas foi com essa ideia em mente que concebi outros livros meus, porque sei que o verdadeiro amante não sabe o que é a briga. Por sinal, qualquer um, tendo consciência do tempo que passa e do fim da vida, quer a comunhão acima de tudo. […]
A frase é de André Breton, que escreveu Nadja, errando pelas ruas de Paris, aventurando-se com a escuta e com o olhar.  A aventura está no lugar em que estivermos dispostos a nos surpreender. Por isso, na mesma esquina em que um sujeito passa mil vezes sem viver aventura alguma, outro poderá viver uma grande […]
Hoje já é sabido, graças à internet e à televisão, que ninguém pertence a este ou àquele sexo por ter nascido com corpo de homem ou de mulher. Isso significa que não é o corpo, e sim a fantasia do sujeito que determina o pertencimento.  A discrepância entre a biologia e a fantasia pode ser […]
Perdi a conta do número de vezes que citei esta frase no trabalho e na vida. Simplesmente porque estamos fadados a morrer e precisamos de consolo. A inseparabilidade da vida e da morte era representada de várias maneiras durante o classicismo. Um exemplo disso, a alternância dos símbolos da vida – o ovo – e […]
Graças ao pai, o filho pode escapar à relação exclusiva com a mãe. Sem ele, a criança não sai verdadeiramente do útero materno, não se socializa. A função do pai é tornar possível a aceitação da lei, mas esta função, obviamente, pode ser exercida por alguém que não seja o pai biológico e tanto pode […]
A gente só não perde o que já está perdido, me disse uma amiga, procurando me consolar quando perdemos um amigo comum. Mas foi ao escrever o romance Consolação que eu encontrei consolo. Ao perceber que perder não é deixar de ter e que quem morre pode continuar a existir graças à memória. Desde então, eu […]
Com a sua imaginação, o artista cria uma realidade até então inexistente. Ao criá-la, se surpreende e se renova. Por isso, o objeto de arte é uma fonte de juventa.  O artista se salva com a arte, que, por sua vez, é um poderoso recurso civilizatório. Sem arte e sem cultura, não há como frear a […]
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